05 août 2013

CABO VERDE : Equipas apresentam queixa à FIBA: Suspeita de corrupção desportiva na FCBB

A FIBA, órgão máximo do basquetebol a nível internacional, contactou o conselho directivo da Federação Cabo-Verdiana de Basquetebol (FCBB) após receber denúncias de corrupção desportiva que visam a instituição nacional. Em causa está a suposta utilização de jogadores em situação irregular no campeonato nacional por parte do Bairro. Kitana Cabral confirma o contacto da FIBA mas desmente qualquer irregularidade. O certo é que o campeonato foi interrompido e não há ainda qualquer previsão de retoma.

Equipas apresentam queixa à FIBA: Suspeita de corrupção desportiva na FCBB
Os jogos que deviam definir os lugares do pódio não foram realizados. A maioria das equipas finalistas – neste caso Seven Stars, Académica de S. Vicente e Preguiça, recusou entrar em campo, em protesto. O seu alvo principal é a Federação Cabo-Verdiana de Basquetebol (FCBB), a quem acusam de permitir o uso irregular de jogadores. Descontentes, os clubes apresentaram junto da FIBA – Federação Internacional de Basquetebol – uma queixa contra a FCBB. A acusação diz que atletas que jogam em ligas internacionais terão competido de forma fraudulenta na prova cabo-verdiana.
De acordo com o regulamento da FIBA “uma carta de autorização deve ser obtida a partir da federação-membro onde um jogador foi licenciado anteriormente para que ele possa ser licenciado por outra federação filiada. Uma cópia de cada carta de habilitação deve ser enviada (também por e-mail) para a FIBA. Este documento certifica que o jogador em causa é livre para ser licenciado por um outro membro da federação”. Tais requisitos, garantem a Seven Stars, Académica e Preguiça, não foram cumpridos.
Fontes deste jornal garantem que em caso de fraude desportiva, a multa pode chegar aos 50.000 francos suiços, ou seja, cerca de quatro mil contos cabo-verdianos. Kitana Cabral confirma que foi contactado pela FIBA que "queria saber se está tudo bem”, enquanto que deixa um recado aos seus detractores: a FIBA não passa multas “a torto e a direito”, diz, além de que, garante, tudo está a ser feito de acordo com os regulamentos internacionais. “Nós seguimos todas as regras e podemos mostrar todas as cartas internacionais de certificação dos jogadores, até porque elas foram enviadas com cópia para a FIBA”.
O Presidente da Federação Cabo-Verdiana de Basquetebol não tem contudo uma previsão para o reinício do campeonato nacional. “Quero sentar-me com todas as equipas finalistas para encontrar uma data de consenso”, diz Kitana Cabral, para quem a prioridade agora é concentrar energias na preparação do Afrobasket, prova em que os Tubarões Martelo participam dentro de duas semanas. “A selecção nacional joga esta sexta-feira, em São Vicente. Nós estaremos lá para apoiá-los. Não vamos gastar energias com questões internas”, afirma.
Kitana Cabral lamenta ainda a falta de fé na organização que dirige e no trabalho que desenvolve em prol do basquetebol nacional. Entretanto avisa que não cede a ameaças nem a chantagens. “As pessoas não têm fé no trabalho da federação e acham que tudo é feito de forma maldosa ou para prejudicar alguém, porque a ganância de ganhar jogos não os deixa ver a realidade”, sugere o presidente da FCBB.
Guerra sem dono
Polémicas quanto à utilização de jogadores profissionais sempre existiram. As equipas que nunca recorreram a esta solução – ou porque não querem ou porque não têm condições para tal – consideram a medida injusta para com os basquetebolistas amadores, que se debatem diariamente com problemas vários, como falta de espaços adequados para treino e dificuldades para conciliar trabalho, escola e desporto.
Jogadores que, quando começa o campeonato nacional, enfrentam muitas vezes atletas profissionais cuja única responsabilidade é o basquetebol e que militam em equipas estrangeiras onde as condições de trabalho são, de longe, melhores do que as que existem em Cabo Verde.
Mas apesar das farpas lançadas de parte a parte todos os anos, nada permitia prever este desfecho do campeonato nacional. A disputa do terceiro e quarto lugares entre a equipa sanvicentina Académica e o salense clube Preguiça e a final entre o Seven Stars e o Bairro, ambos da ilha de Santiago, foram interrompidas em meio a protestos no Gimno-desportivo.
A polémica ganha mais capítulos a cada minuto com os clubes e associações desportivas a trocarem ofensas e acusações, sem poupar a direcção da FCBB. Uma verdadeira “guerra sem dono” com os clubes a atacar na secretaria e não em campo.
O treinador da Académica de São Vicente, Kula Monteiro, acusa o Bairro de ter utilizado de forma irregular o base norte-americano Kevin Charles Swiggett no jogo das meias-finais. Jogo em que, recorde-se, a equipa do Mindelo perdeu por um ponto: 90-89.
Já Preguiça reclama do desrespeito às regras que impõem a aquisição de apenas dois jogadores de ligas profissionais. O Bairro, dizem dirigentes do clube salense, reforçou-se com três: os irmãos Ivan e Joel Almeida e Kevin Charles Swiggett. A direcção da FCBB chegou mesmo a suspender o jogador norte-americano, mas Bairro recorreu ao Conselho Jurisdicional da FCBB e este órgão decidiu a seu favor.
“Por a transferência do atleta em causa ter sido efectivada antes de 31 de Maio e porque o pedido de inscrição foi feito a 27 de Junho (quase 1 mês depois) e, por não se aplicar o limite temporal de 31 de Janeiro, o atleta podia ser inscrito”, escreve o Conselho Jurisdicional da FCBB. Uma resposta que não convenceu o Seven Stars, clube que através de comunicado mantém as acusações de ilegalidade na inscrição de Swiggett.
“Mesmo que o jogador estivesse legalmente inscrito (que não está) nunca foi qualificado para jogar”. A Direcção do Seven cita os artigos 16º, 35º e 36º do regulamento da FCBB para fundamentar as suas acusações. “O jogador só está qualificado para jogar depois da Federação, após recepção do certificado internacional, emitir um comunicado oficial autorizando o atleta a jogar pelo seu clube”.
Tal comunicado foi emitido no caso de Ivan e Joel Almeida, do Bairro, Houtman e Fidel, do ABC, Braima e Denis, do Seven, Tony Barros, do Prédio, e Pitter Rolando, do Delta, mas não existe nenhum documento a qualificar o Kevin Swiggett a jogar o nacional de basquetebol, garante a Direcção do Seven Stars. Tais acusações, dizem dirigentes do Bairro Craveiro Lopes, magoam e mancham a honra do clube verde e amarelo, pois dão a entender que a equipa, uma das mais antigas da capital e de Cabo Verde, agiu de forma desonesta. Certo é que a FIBA pode vir a ser mais uma vez accionada: as equipas nacionais desacreditam publicamente as decisões da Federação Cabo-Verdiana de Basquetebol, tornando-se previsível que venham a convocar a FIBA para resolver o impasse. Até lá, não há vencidos nem vencedores.
Por: Susana Rendall Rocha